quarta-feira, 20 de abril de 2011

Dólar fecha a R$ 1,571 e volta às mínimas de 2008

SÃO PAULO – O pregão de quarta-feira foi de elevado volume e acentuada oscilação de preço no câmbio local. Mas, no fim das contas, a pressão vendedora falou mais alto e o dólar fez nova mínima não vista desde agosto de 2008.

 Depois de subir a R$ 1,582 e cair a R$ 1,564, o dólar comercial terminou o dia praticamente no meio do caminho, a R$ 1,571, queda de 0,31%. Tal cotação é a menor desde 4 de agosto de 2008, quando a moeda encerrou a R$ 1,562. O giro no interbancário foi de US$ 2 bilhões.

Na semana, o dólar perdeu 0,44%. No mês, a queda é de 3,68%. E no ano o dólar cai 5,70%. Cabe lembrar que os mercados só voltam a negociar na segunda-feira.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar pronto encerrou a jornada com baixa de 0,29%, a R$ 1,5725. O giro caiu de US$ 81,25 milhões para US$ 61,5 milhões.

Também na BM&F, o dólar para maio, perdia 0,57%, a R$ 1,567, antes do ajuste final. Na mínima, o contrato foi a R$ 1,562 e na máxima a R$ 1,584.

No câmbio externo, o dólar teve uma única direção durante todo o pregão: para baixo. Há pouco, o Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, recuava 0,88%, a 74,37 pontos. Já o euro apontava alta superior a 1,2%, acima de US$ 1,45.

O mercado local seguia o sinal externo, mas uma grande ordem de compra lançada por volta das 13h10 trouxe instabilidade ao pregão. Um banco tomou 5 mil lotes de dólar futuro, o equivalente a US$ 250 milhões.

Segundo operadores, essa grande oferta de compra serviu de gatilho para uma série de operações de “stop loss”, ou seja, um limite de cotação foi atingido e, automaticamente, ordens de compra (neste caso) são exercidas.

Cabe lembrar que essas ordens de stop são executadas remotamente, ou seja, o sistema de negociação lança a oferta de compra e venda em milésimos de segundo, seguindo programação prévia do operador.

A dúvida que ficou em aberto e gerou uma série de especulações foi se os 5 mil lotes foram de fato comprados, se foi um erro de operação e, se foi uma ordem mesmo, o que esse agente sabe que o resto do mercado não sabe. Também foi comentado que esse banco estaria operando para outra instituição ou mesmo para algum fundo estrangeiro.  

O fato é que desde esse episódio a desconfiança cresceu no mercado e os agentes, como não estavam entendo direito o que aconteceu, saíram no mercado. O quadro só mudou de figura no fim do dia, quando os agentes resolveram desarmar as posições compradas montadas no momento de incerteza.

Cabe destacar que, conforme observado ontem, o dólar futuro continua abaixo no preço à vista. Clara distorção de preço, pois, por definição, o preço futuro é o à vista mais um prêmio pelo prazo do contrato.

Tal distorção sugere uma falta de dólar pronto no mercado. Se esse ativo está mais escasso seu preço é maior do que o futuro, onde não há restrição de oferta. Essa falta de dólares à vista é reflexo direto das recentes medidas do governo para conter o fluxo de recursos até dois anos.

Essa distorção também atinge o mercado de cupom cambial (DDI – juro em dólar no mercado local). A taxa do cupom não para de subir. De forma simplificada, esse aumento de taxa deixa o real menos atrativos para as operações de arbitragem de juros, o famoso carry trade.

No entanto, isso só é válido para operações de curto prazo. Estratégias com seis meses a um ano encontram taxa favorável às operações com real.

Voltando à falta de dólar pronto, os dados apresentado pelo Banco Central (BC) sobre o fluxo cambial corroboram com essa visão. Até o dia 15 de abril, o resultado é positivo em apenas US$ 605 milhões. Em período semelhante de março, a sobra de dólares no mercado local estava em US$ 11,78 bilhões.

Cabe ressaltar que mesmo com esse fraco fluxo cambial, o BC seguiu firme na compra de moeda. As atuações, tanto à vista quanto à termo, somaram US$ 5,014 bilhões em abril até o dia 15. Ou seja, o BC comprou US$ 4,409 bilhões a mais do que o fluxo. Quem provê essa liquidez à autoridade monetária são os bancos, que dessa forma, ampliam sua posição vendida. O estoque que estava em US$ 8,83 bilhões no fim de março já ultrapassa os US$ 13 bilhões.

Cabe lembrar, no entanto, que os bancos contam, agora, com um limite a essas posições vendidas, que não podem exceder US$ 3 bilhões ou capital de referência, o que for menor. Caso contrário paga-se 60% de compulsório.

(Eduardo Campos | Valor)

 

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