A produção industrial brasileira e a questão cambial
* Roberto Simonardi
As raízes do processo industrial brasileiro estão calcadas no conceito de substituição de importações, iniciado a partir do momento em que nossa economia, dominada pelo setor cafeeiro, contemplava uma produção industrial incipiente. O dinheiro amealhado pelo País com as exportações do café, custeava as importações de quase tudo que fosse manufaturado, até mesmo produtos de baixo incremento tecnológico.
Entretanto, a grande crise de 1929 colocou fora de operação os nossos tradicionais fornecedores de manufaturados e, se o Brasil tinha suas necessidades, deveria se esforçar para atendê-las com seus próprios recursos. Consequentemente, era preciso que o país substituísse os produtos importados pelos nacionais.
O processo industrial no Brasil começou, timidamente, naquela época e avançaria lentamente até o Plano de Metas do Presidente Kubitschek, já na década de 1950. Ali assistimos ao primeiro grande impulso rumo à industrialização, mas agora o embasamento conceitual não era mais o de substituição de importações. No pós-guerra, a economia mundial atingiu um novo patamar, relacionado com o valor agregado, e por extensão, com o efeito econômico obtido pela produção do País, que, se quisesse avançar rumo ao desenvolvimento econômico, deveria substituir um modelo majoritariamente baseado em produtos primários, por um que se baseasse em manufaturados
Contudo, nesta época já se fizeram notar os grandes desafios que o processo de industrialização enfrentaria no Brasil e que continuam presentes na realidade contemporânea, alguns atenuados, outros intensificados. Portanto, a conclusão é que a produção manufatureira do País, considerada numa média geral, sempre conviveu com significativos graus de ineficiência e a sua competitividade, com relação ao mercado internacional, nunca ultrapassou o nível de regular.
Tal constatação ensejou uma série de medidas protecionistas por parte de sucessivos governos brasileiros, implementadas tanto para manter o parque industrial existente, como para viabilizar novos investimentos. Todavia, a par dos subsídios concedidos, das renúncias fiscais e das reservas de mercado estabelecidas em lei, a grande proteção da indústria nacional contra a competição externa sempre foi a taxa de câmbio, com seu histórico viés de alta.
No entanto, no início do século 21, as relações econômicas internacionais passaram a sofrer uma série de modificações que geraram consequências importantes para o País e que, em conjunto com as políticas econômicas brasileiras, transformaram o viés de alta da taxa de câmbio num viés de baixa.
Assim, o parque industrial brasileiro perde sua grande proteção e sofre com uma crescente concorrência internacional, contra a qual se apresenta frequentemente despreparado. Alguns apontam como causa desta fragilidade a política cambial vigente, sugerindo que o governo deveria intervir no sentido de elevar a taxa de câmbio, reerguendo assim a velha muralha.
Mas a verdadeira solução está em alcançar a eficiência que nunca foi conseguida, apesar dos mais de sessenta anos do Plano de Metas. Neste sentido, o objetivo central deve ser a melhora dos índices educacionais do País, para que se obtenham ganhos de produtividade dos trabalhadores e para conseguir condições para o desenvolvimento de novas tecnologias.
* Roberto Simonardi é mestre em Economia Empresarial pela Universidade Cândido Mender (Ucam) e professor de Economia Internacional da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-RJ)
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